Galeria dos Mártires - Mário Alves de Souza Vieira
A dignidade de um revolucionário
RIO DE JANEIRO * 16/01/1970
Mário
Alves, preso, torturado e assassinado, que anos depois tornou-se o primeiro
desaparecido politico reconhecido pelo estado Brasileiro. A viúva, que sempre
lutou por justiça, escreveu à esposa de um embaixador sequestrado:
“Todos
conhecem seu sofrimento, sua angustia. A imprensa falada e escrita focaliza
todos os dias o seu drama. Mas do meu sofrimento, da minha angustia ninguém
fala. Choro sozinha. Não tenho os seus recursos para me fazer ouvir, para dizer
também que tenho o coração partido, que quero o meu marido de volta. O seu
marido está vivo, bem tratado, vai voltar. O meu foi trucidado, morto sob
tortura, pelo 1° Exército, foi executado sem processo, sem julgamento. Reclamo
seu corpo. Nem a Comissão de Direitos da Pessoa Humana me atendeu. Não sei o
que fizeram dele, onde o jogaram. Ele era Mário Alves de Souza Vieira,
jornalista. Foi preço no dia 16 de janeiro do corrente, na Guanabara, pela
polícia do 1° Exército e levado para o quartel da PE, sendo espancado
barbaramente de noite, espancado com um cassetete dentado, o corpo todo
esfolado por escova de arame, por se recusar a prestar informações exigidas
pelos torturados do 1° Exército e do DOPS. Alguns presos, levados à sala de
tortura para limpar o chão sujo de sangue e de fezes, viram meu marido
moribundo, sangrando pela boca e pelo nariz, nu, jogando no chão, arquejante,
pedindo água, e os militares torturadores em volta, rindo, não permitindo que
lhe prestasse nenhum socorro. Sei que a Senhora não tem condições de avaliar
meu sofrimento, porque a dor de cada um é sempre maior do que a dos outros. Mas
espero que compreenda que as condições que levaram meu marido a ser torturado
até a morte e o seu sequestrado são as mesmas causas; que é importante saber
que violência-fome, violência-miséria, violência-opressão, violência-atraso,
violência-terrorismo, violência-guerrilha; que é muito importante saber quem
pratica a violência – os que criam a miséria ou os que lutam contra ela”.
Comentários
Postar um comentário