Galeria dos Mártires - Frei Diego Cristóbal Uribe Escobar
Frei DIEGO CRISTÓBAL URIBE ESCOBAR
Mártir do Evangelho da Libertação
COLÔMBIA * 02/12/1981
Diego Cristóbal Uribe Escobar nasceu em Envigado
(Antioquia) em 11 de agosto de 1942, filho de José Maria Uribe e Gabriela
Escobar. Seus primeiros anos foram passados em sua cidade natal, onde
frequentou a Escola Modelo (agora Fernando González) e o Colégio Jesus Maria
Mejia (Mais tarde La Salle), e a partir daí passou a estudar filosofia e teologia com a
ordem dos franciscanos.
Referindo-se a esta fase de sua vida e em particular a influência de casa,
em sua formação, ele escreveu à sua mãe:
"Tudo começa a partir de casa, desde a formação, com os conselhos e
exemplos de ti recebido: desde a infância você ajudou a formar em mim um
sentido profundo justiça, honestidade, responsabilidade e amor aos pobres. Isto
foi o que me levou a sair de casa e buscar a viver o mais fielmente possível a
estes princípios por meio do sacerdócio e dentro da comunidade franciscana. Ali
na comunidade recebi novas contribuições para minha formação...", (Maio de
1978).
Em janeiro de 1961, ele entrou para o noviciado franciscano em San Luis de
Ubaté (Cundinamarca) e ali mesmo fez a sua profissão religiosa em 16 de Janeiro
1962. Nesse mesmo ano começou seus estudos de filosofia na Universidade de São
Boaventura de Bogotá, onde concluiu o curso no mês de novembro 1964. Após um
ano de práticas de ensino na escola de San Francisco Solano da Armênia,
continuou seus estudos teológicos em Bogotá por quatro anos, e no final do
curso de teologia, foi ordenado presbítero no 13 de dezembro de 1969 por Dom
Alfonso Uribe Jaramillo, na Igreja San Benito Medellin.
Sua primeira missão como sacerdote foi em Micay Lopez, uma isolada Paróquia
ao longo dos rios e Micay e Naya, pertencentes a 1ª Prefeitura Apostólica de
Guapi, na costa do Pacífico. Foi lá que ele começou colocar em prática
plenamente o seu sentido de responsabilidade, honestidade e justiça: "... dentro da vida franciscana e sacerdotal eu encontrei uma maneira
de viver buscando realizar esses valores que eu inicialmente aprendidas em casa".
(Maio de 1978).
A experiência ministerial em López foi a que realmente marcou o início de
sua opção radical pelos pobres. Nesta época vieram a lembrança suas palavras
escritas em agosto 1979: "Fazem mais de sete anos que venho analisando e
refletindo mais profundamente estas coisas".
O contato com a miséria dos negros do Pacífico, vivendo confinados nas
margens dos rios como o último reduto da escravidão, comoveu profundamente a sensibilidade
de Diego, vendo-os vítimas da ganância de madeireiros e das manipulações dos
politiqueiros na região. Foi nessa realidade de opressão onde começou a sentir
a responsabilidade de seu compromisso histórico como a de quem deve transportar
uma carga delicada através de uma corrente de tempestade.
"É como quem atravessou uma corrente muito forte e perigosa levando
uma delicada carga e concluído com
êxito, porém, atrás vem outros que lhes cabe também enfrentar com delicadas responsabilidades
a mesma corrente, que cada dia se torna mais tempestuoso. Agora tenho a
satisfação do dever cumprido, porém, tenho também a expectativa de quem está os vendo, mais conscientes e formados para seguir enfrentando essa corrente. Pode ter certeza que estou nessa
luta em circunstâncias diferentes das suas, porém, impulsionado pelos mesmos
princípios dos quais eles têm me ensinado com suas palavras e exemplos”. (Dezembro de
1979).
Sua índole pessoal o levava sem dificuldades a fazer análises serena e profunda
dos acontecimentos da história, ao ritmo do qual adequava paulatinamente suas
decisões, que se tornavam firmes e definitivas na medida em que referendada por
seu estudo. Este esforço de reflexão tornou mais constante particularmente
durante a sua experiência de profecia e serviço aos pobres de sua paróquia de
San Vicente e o levou a buscar novos caminhos, que se concretizaram em um
chamado que sentia cada vez mais exigente e que e definitivamente mudou o curso
de sua existência.
Ele pensou que era necessário pertencer a uma organização
político-militar, como o único caminho para acelerar a mudança por ele tão
desejada e foi assim que se inscreveu nas fileiras do Exército de Libertação
Nacional, que tinham militado os sacerdotes Camilo Torres e Domingo Laín.
Com Camilo - dizia constantemente - aprendi que "a revolução é um imperativo cristão".
"tenho chegado ao convencimento de que devo lutar como sacerdote e como
franciscano por meu país e por todos os povos do mundo para que seja eliminada a
exploração capitalista e qualquer outro tipo de exploração. Faço parte hoje de uma
organização político-militar do povo, que, sob o nome de Exército Nacional Libertação
(ELN) busca acabar com a exploração capitalista e estabelecer um sistema socialista
onde podemos verdadeiramente nos tratarmos como irmãos". (Outubro de 1978).
Quem lê estas palavras sem mais referência, pode imaginar que quem a escreveu
era um homem de temperamento irracional, intolerante ou impulsivo, porém, aqueles
que o conheciam de perto, seus irmãos, garantem que a nota representa o temperamento
de Diego, que desde a infância era precisamente a mansidão. Portanto, esta
decisão foi o resultado de uma reflexão ponderada, tal qual ele costumava fazer suas
coisas. Sua nova opção foi gradualmente amadurecida e não só exigiu longas horas
de reflexão, mas chegou até a renunciar as exigências naturais de afeto familiar
em seus esforços para ser fiel ao seu compromisso. Assim nos faz compreender
neste trecho da carta que escreveu para sua mãe:
"... Desde antes de me comprometer mais seriamente na missão que me
encontro cumprindo, eu vi que isso implicaria um sacrifício muito grande para
você; isto eu pensei muitas vezes. Porém, por outro lado, eu tinha o meu
compromisso de fidelidade como sacerdote e franciscano e, dentro disso, o meu
ideal de serviço à humanidade, ou seja, a missão que como homem devo cumprir neste
estágio da história que me cabe viver. E depois de muito pensar, resolvei
seguir com o meu compromisso, convencido de que, no final, saberás entender o
valor em meio ao sofrimento moral, a entender que prefere um filho um pouco distante
fisicamente de você e não um filho perto, mas amargurado por ser um traidor de
seus próprios ideais, da missão que o Senhor lhe atribuiu". (Julho de
1980).
"...a cada dia mais pessoas se conscientiza do clamor por justiça do Evangelho
e a angustiosa necessidade do povo trabalhar. Querida mamãe, eu
não posso pensar de maneira diferente, porque tenho tratado de abrir os olhos
para a realidade de nosso país e tratado de sentí-la de perto. Pensar e agir de
forma diferente seria trair a mim mesmo, a minha vocação, o Evangelho. Ficar
quieto e não fazer nada contra a injustiça cada vez maior, seria para mim o pior
sofrimento. Não pense que agora sofro; agora eu entendo melhor o que diz o
Evangelho: "Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da
justiça". (Março de 1979).
Texto elaborado por Tonny, da Irmandade dos Mártires da Caminhada.
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