Galeria dos Mártires - Eugênio Lyra

EUGÊNIO LYRA
Advogado dos Trabalhadores Rurais, Mártir da Justiça
SANTA MARIA DA VITÓRIA – BA * 22/09/1977

Eugênio Lyra nasceu no dia 08 de janeiro de 1947. Começou a frequentar uma escola particular com apenas cinco anos e aos sete, ingressou numa escola pública. Gostava muito de ler e lia tudo o que via.

Não gostava de brincar, não sabia jogar gude, nem bola e nem outros brinquedos que as crianças gostam.

Sempre foi muito estudioso, esperto, prestativo, principalmente com as pessoas mais humildes e velhas. Era muito preocupado comigo, com os irmãos e com as pessoas do seu relacionamento. Isto desde pequeno.

Aos onze anos, ingressou no Colégio Marista. Sempre foi um aluno muito esforçado e de ótimo comportamento. Aos quinze, concluiu a 4º série do ginásio e mudou-se para Salvador, onde deu continuidade aos estudos. Morava em uma pensão, no quarto dos fundos, local em que passou horas amargas e grandes sacrifícios para alcançar o que ele mais desejava.

Fez o científico no Colégio Central, onde conheceu Lúcia, sua colega e amiga. Juntos fizeram o vestibular, passaram e continuaram os estudos na Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia. Desta amizade nasceu o amor. 

Ainda estudante, aos dezoito anos, lançou seu primeiro livro, intitulado Fogos Fátuos. Em 1968, aos vinte e um anos, lançou Abismos, livro, assim como o primeiro, de poesias.

Em 1969, quando estava estagiando, a primeira causa foi de uma humilde senhora que estava para perder a casa. Eugênio fez todo o possível para que ela permanecesse no imóvel.

Formou-se em 1970, no dia 08 de dezembro. Um ano depois, casou-se com Lúcia e juntos, na mesma profissão, instalaram um escritório na Rua Chile, em Salvador, onde atenderam por algum tempo.

Sendo chamado para trabalhar em diversos sindicatos, viajava para atender em várias cidades do interior baiano tais como: Feira de Santana, Riachão do Jacuípe, Cachoeira, Santo Antônio de Jesus, dentre outras. 

Em 1976, no dia 05 de abril, foi transferido para Santa Maria da Vitória, onde fixou residência, atendendo aos trabalhadores e lutando pela devolução das terras dos camponeses que tinham sido tomadas pelos grileiros. Ele se sentia bem em lidar com aquela gente sofredora, que precisava de alguém humano que fizesse algo por eles: recebia a todos que o procuravam e atendia com carinho e atenção aquela gente humilde. Buscando sempre ajudá-los, sentia-se feliz ao lado deles. 

Um dia foi convidado por um grileiro que lhe ofereceu uma boa quantia para que ficasse ao lado dele, contra os lavradores. Ele agradeceu dizendo que ficaria com os lavradores, que precisavam dele. Deste dia em diante, começaram as ameaças e perseguições. Mesmo assim, ele não acreditava que alguém tivesse coragem de lhe fazer o mal. 

Ele e Lúcia já estavam casados há seis anos. Ela estava esperando um filho e estavam felizes. Mas a felicidade durou pouco... 

Eugênio vinha a Salvador para depor na CPI da grilagem. Viria na sexta-feira, não sabendo que as autoridades de lá (como o delegado de polícia e o regional, que era na época Eymar Portugal Sena Gomes) estavam aliadas aos malditos grileiros e haviam contratado o pistoleiro Wilson Gusmão por Cr$ 40.000,00 (quarenta mil cruzeiros) para executar o bárbaro crime, antes da vinda dele para Salvador. 

Nesta época, Lúcia estava no quinto mês de gestação e como vivia assustada não deixava que ele saísse sozinho. Andavam sempre juntos. E foi então que na quinta-feira, 22 de setembro de 1977, na porta da barbearia de Santa Maria da Vitória, aconteceu a triste tragédia: Eugênio, aos 30 anos, fora vitimado, fatalmente, com uma bala na testa, caindo aos pés de Lúcia, que ainda correu atrás do pistoleiro. 

E assim fizeram parar a vida do jovem advogado que lutou e deu seu sangue pelos lavradores, deixando, além da família, uma criança inocente, a maior vítima deste bárbaro crime: a pequenina Mariana. 

Aqui termina, com um trágico fim, a história de uma criança boa, inteligente e jovem; que não teve infância, nem juventude: seu mundo foi os livros, sua família e a luta ao lado dos trabalhadores.

É com muita amargura e com o coração traspassado que narrei à vida do meu inesquecível filho EUGÊNIO LYRA
Dona Maria Lyra, 1981

Abaixo um poema escrito por Eugênio Lyra para sua esposa:

“Plantemos novas sementes,
colhamos frutos maduros,
rompamos todas as frentes
e obstáculos futuros.
Sejamos mais conscientes
e, juntos, onipotentes,
prostremos todos os muros.”

Do teu, para sempre,
Eugênio – 14/04/71

Comentários

  1. Muito triste tirar a vida de um profissional tão dedicado aos mais necessitados.

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