Galeria dos Mártires - Mártires de Cayara
MÁRTIRES DE CAYARA
Mártires Pela Paz
PERU * 14/05/1988
Muitos
estão em seus campos, colhendo milho. Outros voltam da procissão da Virgen del
Carmen que aconteceu no dia anterior. De repente, como se brotando da terra,
com os rostos pintados ou cobertos, a pé, a cavalo, em helicópteros, os
soldados invadiram Cayara, Ayacucho. Eles vêm para vingar a morte de vários militares
e soldados que no dia anterior caíram em uma emboscada do Sendero Luminoso.
Ao chegar, assassinam
a Esteban Asto Batista. Dando tiros e insultando, eles fizeram entrar no templo
cinco homens. Eles amarraram as mãos destes homens com correias. As mulheres
foram lançadas para fora com ameaças de morte. Elas escutam gritos de dor.
Outras patrulhas chutam as portas, roubavam, queimavam, destruíam tudo. Levam presos
para o quartel vizinho várias pessoas. Levaram também a enfermeira, que estava vacinando
as crianças. Os homens que retornavam do campo foram forçados a tirarem as
camisas e se deitarem no chão. Os saldados colocaram cactos em cima dos homens
e pisam sobre eles, para que os espinhos dos cactos enterrassem na carne deles.
E começam a
matá-los um por um. Não desperdice balas: usaram facas, machados, martelos. São
vinte e dois camponeses assassinados. Da mesma forma assassinam o diretor do
colégio, Zósimo Taquiri Yankee. Todas as mortes foram executadas em frente de
suas esposas. Os soldados pedem inutilmente as armas com as quais eles haviam “matado o capitão”. Porém os camponeses não
sabiam o que aconteceu no dia anterior entre o exército e os guerrilheiros.
Quando uma mulher tenta ajudar um dos feridos, um soldado os assassinam. Os
condenados à morte sofrem torturas indescritíveis. Os sobreviventes tiveram que
jurar silêncio absoluto.
Dois dias
depois, chega o general Valdivia, chefe político militar de Ayacucho e prendeu
vinte pessoas. Liberou dezesseis, os outros estão desaparecidos. As denuncias
chegam até o Parlamento e a opinião pública. Deve-se esperar o relatório do
Ministro da Defesa, mas a Comissão de Direitos Humanos da Câmara e o promotor
Carlos Escobar, decidem investigar imediatamente. O exército os impedem de
entrar em Cayara. No entanto, eles recebem os primeiros testemunhos. A versão
oficial nega o massacre, enfocando a “emboscada
sofrida pelo exército, em que dezoito rebeldes foram mortos, cujos corpos foram
enterrados pelos soldados”.
Treze dias
depois, a Comissão, o promotor e alguns jornalistas conseguem entrar em Cayara.
Não encontram os cadáveres. Mas há vestígios e cheiro de morte ao longo do
caminho. A comissão parlamentar presidida por Carlos Melgar, o partido no
poder, visitar o lugar e chega a um acordo com o comando político-militar de
Ayacucho. Nem se quer se reunir com o promotor Carlos Escobar.
O país
inteiro se comoveu diante dos fatos. Os universitários de San Marcos saem pelas
ruas e são brutalmente reprimidas pela polícia. Javier Arrasco morre com um
tiro na cabeça e mais de mil estudantes foram detidos sob a acusação de
terrorismo. Um grupo armado entra Cayara em 30 de junho e distribui folhetos do
Sendero Luminoso que dizia: “Assim morem os
informantes”. Sequestram quatro homens e duas mulheres. Alguns vizinhos
reconhecem vários soldados entre os alegados senderistas. Os sequestrados estão
desaparecidos. Coincidentemente são as testemunhas da matança. Só em 10 de
agosto, o promotor e o juiz de Cangallo descobriram uma vala comum no monte
Pucutuccasa. Eles exumam e identificam os corpos. A lista de novos mártires de
Ayacucho está completa.
Seus nomes
podem não aparecer no mármore dos heróis, porém, seu sangue se soma com as
lágrimas de seu povo, que um dia terão terra, pão e justiça.
Texto elaborado por Tonny, da Irmandade dos Mártires da Caminhada.
Comentários
Postar um comentário