Galeria dos Mártires - Camilo Torres
CAMILO TORRES
Mártir das lutas de libertação
COLÔMBIA * 15/02/1966
Jorge Camilo Torres Restrepo, nasceu em Bogotá, Colômbia, em 03 de fevereiro de 1929. De uma família da alta burguesia. Em inícios de 1948 resolve entrar no Seminário Conciliar de Bogotá e preparar-se para o sacerdócio. Ali permaneceu durante sete anos, sendo ordenado padre em 1954. Logo em seguida é enviado à Bélgica para estudar sociologia na Universidade Católica de Lovaina. Em 1958 se graduou como sociólogo, apresentando um trabalho que analisava a proletarização de Bogotá.
A maior parte de sua missão desenvolveu-se na universidade. Camilo Torres foi líder de estudantes e jovens professores, de todos aqueles que intuitivamente buscavam uma transformação das estrutura de opressão.
Viajava por todo seu país e ai descobrindo a miséria de seu povo. Mas, além do cientista e do político que Camilo Torres era, tinha uma profunda fé, cujas opções eram feitas a partir do Evangelho. Também na opção última e decisiva, quando interrompia temporariamente seu ministério sacerdotal, era consequente com o radicalismo que o Evangelho exigia de sua consciência.
Em sua última missa em 1965, depois de pressionado pelo alto clero para renunciar ao mistério sacerdotal, declara: “Deixei os privilégios e deveres do clero, porém não deixei de ser sacerdote. Creio que me entreguei à revolução por amor ao próximo. Deixei de rezar missa para realizar este amor ao próximo, no terreno temporal, econômico e social. Quando meu próximo não tiver mais nada contra mim, quando tenha realizado a revolução, voltarei a oferecer missa, se Deus me permitir. Creio que assim sigo o mandamento de Cristo: ‘Portanto, se você for até o altar para levar a sua oferta, e aí se lembrar de que o seu irmão tem alguma coisa contra você, deixe a oferta aí diante do altar, e vá primeiro fazer as pazes com seu irmão; depois, volte para apresentar a oferta’ (Mt 5, 23-24). Depois da revolução, nós cristãos teremos a consciência de que estabelecemos um sistema que estará orientado para o amor ao próximo”.
Camilo Torres, pela sua opção cristã, politica e revolucionária, e seu engajamento social, tornou-se membro do Exército de Libertação Nacional. E em 7 de Janeiro de 1966, quase um mês antes de sua morte, proclama a todos os Colombianos: "Pela unidade da classe popular, até a morte! Pela organização da classe popular, até a morte! Até a morte porque estamos decididos a ir até o final. Até a vitória porque um povo que se entrega até a morte sempre conquista a vitória. Até à vitória final com palavras de ordem do Exército de Libertação Nacional! Nem um passo atrás; libertação ou morte".
Questionado por sua atitude revolucionária, já que era cristão e padre, ele explicava: “Sou revolucionário como colombiano, como sociólogo, como cristão e como padre. Como colombiano, porque não quero ficar distante da luta de meu povo. Como sociólogo, porque minhas intuições científicas, em relação à realidade, me convenceram que é impossível chegar a soluções efetivas e adequadas sem uma revolução. Como cristão, porque o amor ao próximo é a essência do ser cristão, e o bem estar da maioria não se consegue sem a revolução. Como sacerdote, porque a entrega ao próximo, que exige a revolução, é um requisito da caridade fraterna, indispensável para celebrar a missa, que não é uma oferenda individual, mas de todo o povo de Deus por intermédio de Cristo”
Aos 37 anos foi morto num confronto com o exército ao empunhar sua primeira arma, como membro do Exército de Libertação Nacional enquanto tentava auxiliar um companheiro ferido. Sua morte o transformou em simbolo de esperança, acima do "padre guerrilheiro", porque ele inaugurou um novo modo de ser cristão na América Latina, antes de Medellín: comprometeu-se com o irmão oprimido "até doar a vida por ele". Por isto é mártir e profeta da Igreja.
Quando o sacerdócio se faz verdade plena pela doação do corpo e da vida, só há espaço para o silêncio contemplativo reverencial ou para o esforço balbucio da poesia:
"E a Palavra se encarnou e se tornou plena de Amor
e se chamou Jesus ou Camilo,
foi pão para todos os pobres
e se fez todo povo
foi sangue gota a gota derramada
e se fez todo povo.
Já não mais fome nem mais sede proletários,
mas alimento na doação e comunhão,
todos pensar e sentir uma mesma causa
e para a mesma causa.
Todos na luta até a vitória
sem que ninguém chame de meu direito aquilo que tem;
não mais esquecimento do irmão proletário
nem de Deus-Jesus nem de Camilo-carne
mas sim o Amor
feito rito cotidiano, recordação viva
o Amor
feito sacerdócio-Eucaristia".
O amor que Camilo pregava devia ser um amor eficaz, pois “a fé sem obras é morta” (Tg 2,17).
Obs: texto construído a partir de leitura de:
Camilo Torres: O Cristianismo rebelde na América Latina - Prof. Inácio Strieder - Adital - 27/06/2006
Sangue pelo Povo - Martirológio Latino-Americano - Ed. Vozes
Um Cristão Revolucionário: Camilo Torres - CEPIS - centro de educação popular do instituto sedes sapientiae
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