ROMARIA DOS MÁRTIRES DA CAMINHADA
MEMÓRIA DE UM ANO DA ROMARIA DOS MÁRTIRES DA CAMINHADA
Estamos celebrando um ano da nossa Romaria dos Mártires da Caminhada, segue em anexo um texto-memória da experiência que vivemos naqueles dias de festa para os olhos e para o coração. Sigamos em Romaria no compromisso com as Causas do Reino, neste momento de travessia que estamos vivendo, onde cada dia os trabalhadores e trabalhadoras perdem seus direitos conquistados, continuaremos na luta por nenhum direito a menos e na certeza de "TUDO PELO REINO".
ROMARIA DOS MÁRTIRES DA CAMINHADA
"PROFETAS DO REINO"
Tecendo
a Romaria dos Mártires
No ano de
2016 a Igreja de São Félix do Araguaia, onde
o suor e o sangue fecundam o chão, realizou mais uma Romaria dos Mártires.
Em caminhada celebrou a memória dos 40 anos do martírio do Pe. João Bosco
Penido Burnier, do Pe. Rodolfo Lunkenbein e do índio Simão Bororo, e também a
memória do Martírio de Sepé Tiaraju – Patriarca da Causa Indígena, que há 260
anos gritou “Esta Terra é Nossa”.
O tema
desta Romaria foi: “PROFETAS DO REINO”,
dando à profecia as três funções que a caracterizam: anúncio, denúncia e consolo. A profecia anuncia a Boa Nova:
ela é evangelizadora por definição. A profecia denuncia o anti-reino: denuncia
a má notícia de todos os sistemas e atitudes de morte. A profecia consola: É o
pedido do próprio Deus, consola o meu
povo. Opta pelos pobres, excluídos, marginalizados. A profecia que consola
é misericordiosa, solidária, cuidante, luta pela justiça e pela paz, é amorosa.
Para que essa festa Martirial acontecesse
de forma profética, simples, orante e comprometedora, muitas mãos de muitos
lugares e de muitos sonhos ajudaram a tecer de forma bela, comunitária,
generosa essa nossa grande Romaria dos Profetas e das Profetizas do Reino.
Tecendo a festa da vida, para nos
embalar nesta Romaria, muitos encontros, reuniões, oficinas, mutirões e celebrações
foram acontecendo na cidade e no sertão. Aos poucos crianças, juventudes,
mulheres, homens e idosas foram se envolvendo nesta ciranda, e com seus dons,
carismas e descobertas de suas potencialidades, as equipes de serviço foram se
organizando, tecendo relações de cuidado, partilha, gratuidade e muita alegria,
tatuando os seus nomes no estandarte da Romaria.
As várias equipes deram um colorido
especial à tecelagem desta festa. Durante meses, dia e noite, com muita paixão
e compromisso, jeito humilde e alegria se dedicaram aos vários serviços:
oficinas de arte, teatro, arrecadação de alimentos, hospedagem, acolhida,
liturgia, café, animação, cozinha, infraestrutura, comunicação, exposição, venda
de materiais da Prelazia e coordenação.
Nas rodas de conversa nos diversos
regionais da Prelazia se levantaram nomes de profetas e profetizas da bíblia,
da comunidade e de outros lugares do mundo. Esses nomes depois de bordados e
pintados em retalhos de várias cores foram alinhavados num grande painel de
juta e chitão, formando um belo mosaico de cores e profecia.
Neste tempo de preparação experimentamos o novo céu e a nova terra, onde a
partilha, a doação, o encantamento e o profetismo se fez vida nas vidas, nas
nossas vidas.
O
chão da Romaria
No chão sagrado, chão regado com o sangue do mártir Pe.
Joao Bosco Penido Burnier e de tantos outros mártires, homens e mulheres que
foram dando suas vidas pelo chão da moradia, do direito, da educação, da saúde,
da cidadania e da paz, neste chão sagrado os vários espaços foram sendo
organizados, com beleza estética, ética e ecológica tornado esse chão a casa do
Bem Viver e Conviver.
Nesta
grande casa comum, no chão de Ribeirão Cascalheira, os romeiros e romeiras
foram acolhidos e hospedados nas casas e em vários espaços públicos e
comunitários, reproduzindo o jeito acolhedor, simples e fraterno do povo da
terra. A praça da Igreja São Joao Batista tornou-se o lugar do encontro, do
abraço, da convivência, da dança, da partilha e da refeição. Cada lugar foi
pensado para ser funcional, simbólico e ecológico. Na praça, os espaços foram organizados
com tendas, ornadas com fitas de cetim, chitão, faixas, folhagens e flores para
serem o lugar da alimentação, das rodas de conversa, da feira de artesanatos
indígenas. Lugar com muitas torneiras para lavar os copos, pratos e talheres,
eliminando assim os materiais descartáveis num gesto profético de cuidado com a
terra mãe.
A
Igreja São João Batista tornou-se o lugar da memória das romarias, dos
martírios e da vida do povo. Com fotografias, painéis, cartazes, flores,
bandeiras e estandartes a história dos 45 anos da Prelazia de São Félix foi
sendo recontada. Também merecem um destaque especial os espaços onde mulheres e
homens preparavam a alimentação. Ao redor das fornalhas, os muitos alimentos
doados pelas comunidades da Prelazia foram tomando cores, cheiros e sabores. Os
espaços celebrativos: Praça São Joao Batista, Capela da Cruz do Padre João e o Santuário
dos Mártires já tendo em sua essência a beleza da simplicidade foram
enriquecidos com os trabalhos manuais de muitas mãos que durante meses teceram,
bordaram, costuraram e pintaram os vários materiais que ornamentaram esses
lugares de encontro amoroso com o sagrado.
Esses
vários espaços, o chão da Romaria, foram todos preparados num grande mutirão,
onde muitas pessoas com ternura, dedicação e cuidado arrumaram a casa para a
festa.
As
celebrações da Romaria
Toda a organização da romaria foi alimentada pela mística martirial, com celebrações martiriais que aconteceram na cidade e no sertão, fazendo memória dos nossos mártires, recordando as romarias que aconteceram: em 1986 Romaria dos Mártires; 1996 Vidas Pela Vida; 2001 Vidas Pelo Reino; 2006 Vidas Pelo Reino da Vida e 2011 Testemunhas do Reino. Momentos ricos de resgate da memória e compromisso do povo na luta pela terra, pelos direitos, pela dignidade. Muitas pessoas que viveram nas horas de agonia do Pe. João Bosco e que também puderam prestar os primeiros socorros, estar solidários com Margarida e Santana que estavam sendo torturadas, estavam presentes nestas rodas de memória. O bonito era perceber como a história foi sendo recontada, revivida e muitos elementos novos dos quais não conhecíamos foram sendo partilhados por pessoas que testemunharam o martírio diário do povo.
Antecedendo os dias da romaria,
aconteceu nas comunidades o Tríduo Martirial. No dia 13, a primeira noite do
tríduo foi na Comunidade São João Batista, com a participação de bastante gente
que já se somava para ajudar nos trabalhos da Romaria. Fizemos memória de Sepé Tiaraju,
Patriarca da Causa Indígena. Celebramos
os 260 anos do seu martírio. Na segunda noite do tríduo fizemos memória dos 40
anos da morte do Pe. Rodolfo Lunkenbein e de Simão Bororo, mártires da Terra
Indígena. A celebração aconteceu na Comunidade São José. Os sobrinhos do Pe.
Rodolfo que vieram da Alemanha falaram da importância da memória profética de
seu tio e da missão que ele assumiu com os povos indígenas e que devemos hoje assumir
também.
Na terceira e última noite do tríduo
recordamos o martírio do Pe. João Bosco. Rezamos no chão sagrado da Capela da
Cruz onde ele viveu seus últimos momentos de agonia e doação. Nesta noite havia
muita gente que já chegava e participaram deste momento. Pudemos ouvir o
testemunho do Raimundo Paulo, que nos lembrou que aquela região vivia conflitos
dos pequenos posseiros com a investida dos grandes fazendeiros que queriam
expulsá-los de suas terras e que devido a estes conflitos houve a morte de um
policial ocasionando posteriormente a prisão e tortura de Margarida e Santana.
Dona Nelsa nos fez refletir sobre a união do povo pelas causas da vida, da
terra e que com a morte do Pe. João
o povo tomou consciência que a situação de
perseguição aos camponeses deveria ser combatida. Juarez, que era agente de
pastoral no vilarejo na ocasião do martírio do João Bosco, nos contou detalhes
sobre o fato ocorrido. Da ida do Bispo Pedro e o Pe. João até a cadeia para
intercederem pelas mulheres, o tiro fatal e a agonia do pe. João Bosco. A luta
para encontrar um avião para levá-lo para Goiânia. No final da celebração a
multidão seguiu para a Praça do Santuário dos Mártires para assistir a peça “Fica Pedro”, do grupo Associação
Cultural Cena Onze, que conta um pouco da vida e do profetismo do Bispo Pedro.
Vigília
Martirial
No
entardecer do dia 16, com o céu avermelhado, próprio deste tempo, a multidão
dos romeiros e romeiras foi se juntando na praça da Igreja São João Batista, animados
pela equipe de canto, que cantava e invocava a memória profética dos nossos
mártires. Ao redor da grande fogueira, ao som dos atabaques, ia e de flautas, o
povo de romeiras e romeiros eram acolhidas com o mantra: Seja bendito quem chega, trazendo a paz... Pessoas vindas de vários
lugares: Piauí, Bahia, Pernambuco, Ceará, Rondônia, Tocantins, Pará, Minas
Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul,
Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso, Alemanha,
Argentina, e dos regionais da Prelazia. Essas mulheres e homens, profetas e profetizas
do Reino que vieram para a nossa romaria entoavam: Tenho de gritar, tenho de arriscar, ai de mim se não o faço! Como
escapar de ti, como calar, se tua voz arde em meu peito! Tenho de andar, tenho
de lutar, ai de mim se não o faço! Como escapar de ti, como calar, se tua voz
arde em meu peito? O bispo Adriano
faz a saudação à assembleia em festa: “Que
a cruz bendita de Jesus Cristo, cruz que é vitória e a sua luz que brilha em
todos os povos e em todas as culturas esteja com vocês, profetas e profetizas
do Reino”.
Nesta
noite de esperança pascal, noite martirial, noite dos profetas e das profetizas
do Reino, noite dos que lavaram suas vestes no sangue do Cordeiro, escutamos o
texto do livro do Apocalipse: ... Ouvi então o número dos que receberam a marca:
cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos do povo de Israel... Depois
disso eu vi uma grande multidão, que ninguém podia contar: gente de todas as
nações, tribos, povos e línguas. Estavam todos de pé diante do trono e diante
do Cordeiro. Vestiam vestes brancas e traziam palmas na mão... Um dos Anciãos
tomou a palavra e me perguntou: “Você, sabe quem são e de onde vieram esses que
estão vestidos com roupas brancas? Eu respondi: “Não sei não, Senhor! O Senhor
é quem sabe!”. Ele então me explicou: “São os que vêm chegando da grande
tribulação. Eles lavaram e alvejaram suas roupas no sangue do Cordeiro”. (7,2-4.9-14).
A Cruz do Padre João foi trazida pela juventude da comunidade, rodeada de
crianças com palmas nas mãos e a nuvem de testemunhas que podiam ser vistas nos
estandartes dos nossos mártires. Enquanto entoava-se o hino: Ribeirão Bonito, Cruz do padre João, alta Cascalheira,
gente do sertão, O suor e o sangue fecundando o chão... Com as frases da
última fala de Pedro na Romaria de 2011: “O
maior mártir foi Jesus; Podem nos tirar tudo menos a fiel esperança; Não percam
a esperança, não desanimem; Não se esqueçam do sangue dos mártires; Outro mundo
possível somos nós; Não podemos viver sem dignidade e liberdade; Não esqueçam
da opção pelos pobres; Outra Igreja possível somos nós; Quem nasceu para morrer
lutando não vai morrer de braços cruzados; Somos povo da Esperança; Somos povo
da páscoa”. Juventudes dançavam fazendo uma coreografia com muita leveza e
beleza....
O
bispo Pedro Casaldáliga estava na roda, no meio do povo, com os olhos brilhando
de alegria, corpo frágil, voz trêmula, na cadeira de roda, silêncio profético.
Foi acolhido com um caloroso carinho e admiração por aqueles e aquelas que
acreditam e vivem as mesmas causas pelas quais ele deu e continua dando a vida.
Os
povos originários, os primeiros habitantes deste chão sagrado do Araguaia, com
tochas e os corações esperançosos e sonhadores acenderam a fogueira, em seguida
o fogo foi abençoado, e dele acendeu-se
o círio Pascal. As velas do povo são acessas, dissipando as trevas e resplandecendo
nas noites escuras do povo o clarão da luz do mártir Jesus Cristo, a testemunha
fiel, apontando um novo horizonte de Libertação para toda a humanidade: Tu és fonte de vida, Tu és fogo, tu és amor,
Vem Espirito Santo.
Toda
a praça, o caminho e o coração do povo foi sendo iluminado, aquecido e no
clarão da fé e da esperança os romeiros e romeiras seguiram em caminhada rumo
ao Santuário dos Mártires.
Caminhada
Martirial
No
caminho para o santuário, na beira da estrada sete cruzes de bambu, enfeitadas
com fitas de cetim coloridas e flâmulas com as palavras: Indígenas, Negros,
Mulheres, Trabalho, Migrantes, Juventude, Ecologia Integral, marcavam os
lugares onde, os romeiros e romeiras selariam os compromissos com as causas da
vida e dos povos.
Na
primeira cruz, recordamos os Profetas e Profetizas das Causas Indígenas. Uma indígena Guarani-Kaiowá deu o seu testemunho
e denunciou o massacre sistemático que seu povo vem sofrendo.... um grito de
socorro ecoa nesta noite martirial. Se fez a oração da Causa Indígena e
seguimos cantando: Marçal paixão de Cristo,
corpo encarnado em Guarani... Durante a caminhada foram proclamados nomes
dos mártires das causas Indígenas e proferidas palavras de ordem, gritos de
denúncia, anúncio e esperança.
Na
segunda cruz, recordamos os Profetas e Profetizas da Causa Negra. Uma mulher negra falou sobre as lutas e conquistas dos
negros e negras num mundo preconceituoso e racista. Foi rezada a oração da
Causa Negra e seguimos cantando, entremeando os cantos com palavras de ordem e
com a proclamação dos nomes dos mártires relacionados com as causas do povo
negro e pessoas que defenderam estas mesmas causas: Zumbi dos Palmares,
Dandara, Anastácia, Martin Luther King, Nelson Mandela, Dom José Maria Pires,
Benedita da Silva, Chica da Silva, Edina Lima.
Na
terceira cruz, recordamos as Mulheres
como profetizas do Reino. Uma mulher falou em nome de todas as mulheres
guerreiras, fez-se uma oração da Causa da Mulher e seguimos cantando a Canção de Margarida, dizendo palavras de
ordem e proclamando o nome de mulheres martirizadas e que assumiram as causas
das mulheres.
Diante
da quarta cruz, recordamos os Profetas e Profetizas das Causas do Trabalho. Foi lembrada a luta do povo operário, a falta
de emprego, a precarização da mão de obra e o trabalho escravo. Seguimos
cantando: Operário de sonho-criança,
operário da terra e oficina... Na caminhada proclamamos os nomes dos
mártires relacionados com as causas do trabalho: Santo Dias, Frei Tito,
Gervásio Santana, Franz de Castro, Vladimir Herzog, Frank Pais, Marcos Túlio,
Artur Bernal, Juan Alsina. E dizíamos palavras de ordem.
Na
quinta cruz, recordamos os Profetas e Profetizas das Causas dos Migrantes – Refugiados da fome e da guerra. Nos foi
testemunhado os dramas e dilemas de homens, mulheres e crianças que saem em
busca de uma vida melhor. Rezamos a oração dos Direitos Humanos, e seguimos em
caminhada cantando: Pelos caminhos da
América, há tanta dor, tanto pranto, nuvens, mistérios e encantos que envolvem
nosso caminhar e durante a caminhada foram proclamadas palavras de ordem: Sem guerras e sem armas, sem impérios e sem
ditaduras; Um mundo só, o mundo da família humana; Na partilha, na
solidariedade, na comunhão.
Na
sexta cruz recordamos os Profetas e Profetizas das Causas das Crianças e Juventudes. Uma jovem que nasceu na região,
falou sobre a importância de assumir
assim como seus pais as causas da vida, as causas das juventudes, as causas do
povo. Foi rezada a oração do Menor, e seguimos caminhando e cantando: Dorme Joilson, brinca de paz, no céu, Deus é
criança, vai festar. Se teu martírio continuar Deus-criança por teus olhos vai
chorar. Recordamos durante a caminhada os nomes dos mártires relacionados
com as causas das crianças e juventudes: Gabriel Maire, Alexandre Vannucchi
Leme, Vilmar de Castro, Pe. Henrique, Joilson, Nestor Paz Zamora, Nevardo
Fernandez, Luz Stella, José Antônio, Pedro Abizu, Gisley, Lourival, Walderes,
Raimundo, e proclamávamos palavras de ordem.
Diante
da sétima cruz, recordamos os Profetas e Profetizas da Ecologia Integral, nos foi lembrada a luta pela preservação e
cuidado com o meio ambiente, com a terra, a água. Foi rezada a oração da Terra,
e seguimos cantando: Peregrino nas
estradas de um mundo desigual, espoliado pelo lucro e ambição do capital, do
poder do latifúndio enxotado e sem lugar. Na caminhada foram proclamados
nomes dos mártires da ecologia: Chico Mendes, Dorothy, Berta Cáceres, Eugenio
Lira, Ezequiel, Padre Josimo, Margarida Alves, Oscar Fallas, Jaime, David,
Maria Del Mar, Tião da Paz, Nativo da Natividade, Luz Estela, Nevardo.
Chegando
no Santuário, ao rufar dos tambores, ao toque dos instrumentos, todas e todos
com Zé Vicente cantamos o canto dos Mártires da terra: Venham todos, cantemos um canto que nasce da terra, canto novo de paz e
esperança, em tempos de guerra. Logo em seguida, jovens da comunidade
apresentaram a vida e a morte do Padre João Bosco Burnier em forma de teatro. As
matriarcas entram com cestos de bolos de arroz, mandioca e fubá, que foram abençoados
e partilhados com todos e todas. A noite martirial continuou com os artistas da caminhada: Zé
Vicente, Raquel Passos, Benone Jardim, Antônio Baiano, que com seus cantos e
encantos alegraram os romeiros e romeiras do Reino. Também nesta noite de festa
foi feito o lançamento do CD Irmandade
dos Mártires, com músicas compostas para ajudar a bem celebrar a memória e o
compromisso dos nossos mártires.
Celebração
da Ceia do Senhor Jesus
Manhã
do dia 17 de julho, ainda de madrugada, romeiros e romeiras vão chegando na
praça São João Batista. O cheiro do café, o canto dos pássaros, o balé das
araras, os raios do sol, anunciam o dia do Senhor, o dia da nossa Páscoa
semanal, a páscoa dos mártires da caminhada, dia do nosso encontro com o
crucificado-ressuscitado. Numa explosão de alegria os romeiros e romeiras,
sonhadores e sonhadoras do povo começam a dançar cirandas, corpos se encontram,
vozes ecoam no amanhecer deste novo dia.
Está
alegria da manhã continua na ida e na chegada dos romeiros e romeiras à Praça
do Santuário, lugar sagrado, pascal, espaço vivo habitado pela assembleia de
profetas e profetizas da Esperança. Com cantos e entrega dos lenços, preparado
pelas mãos de muitas mulheres da comunidade, todas e todos são acolhidos. O refrão,
Vidas pela vida, vidas pelo Reino era
entoado e aos poucos os corações foram se apaziguando, um grande silêncio
orante e amoroso tomou conta da praça, daquela assembleia. As juventudes
acendem o círio, um grupo de meninas entra dançando e incensando todo o espaço da
celebração que foi preparado com muita beleza e simplicidade e perfeita
harmonia.
A
procissão de entrada conta com 40
mulheres trazendo cuias com água, parentes dos mártires e os bispos presentes
na romaria: Dom Sebastião Gameleira, bispo anglicano; Dom Leonardo, secretário
da CNBB; Dom Roque, arcebispo de Porto Velho, Rondônia, presidente do CIMI; Dom
Eugênio, bispo de Goiás; Dom Vilar, bispo de Cáceres; Dom Adriano, atual bispo
da Prelazia e o bispo Pedro Casaldáliga, que ficou no meio da assembleia, sentado em sua cadeira de rodas. Ele
se fez romeiro entre os romeiros e romeiras. O canto de abertura dizia: Aqui estão os profetas que
nestes tempos nos deram as esperanças e forças para andar. Eles nos deram a
prova daquele amor verdadeiro, que não somente dá tudo, mas se dá! Luta de
amor, estas vidas! Morte de amor, estas mortes! Neles florescem os sonhos do
amanhã!
Aqui
estão os profetas, bem vindos! Bem vindas! Páscoa de Jesus, páscoa dos profetas
e das profetizas do Reino, páscoa dos Mártires, páscoa dos 40 anos do Martírio
do padre João Bosco Penido Burnier, do padre Rodolfo Lunkenbein e do Índio
Simão Bororo, páscoa do nosso país, neste momento temeroso e tenebroso da nossa
história.
Após a
saudação da presidência e bênção da água, a assembleia foi aspergida pelas
mulheres na força do Espírito que faz novas todas as coisas. E todos e todas
foram banhados/as na água que nos faz passar da escravidão à liberdade e à
esperança de um outro mundo possível, do Bem Viver, bem Conviver, profetas do
Reino hoje e em todo tempo.
Com grande vibração e alegria a assembleia entoa o Glória a Deus nas alturas é o canto das
criaturas.... Somos os teus preferidos, é o nosso Pai tão querido!
Concluímos os ritos iniciais rezando ao Pai: Deus da vida e de toda a família
humana que caminha na vossa
presença. Fazendo memória dos mártires da caminhada, celebramos a Páscoa do
vosso Filho Jesus, a Testemunha Fiel. Nós vos bendizemos pelo amor que venceu o
medo, a tortura e a morte, e vos pedimos que nos torneis filhas e filhos da
mesma Graça, profetas, testemunhas e herdeiros do sangue derramado, fiéis ao
Evangelho do Reino.
Com toques
de instrumentos musicais, danças e canto o livro Palavra foi entronizado no
meio da assembleia, a Palavra do profeta Jeremias foi proclamada: “Não tenhas medo... eu estou contigo...
ponho as minhas palavras na tua boca” E na voz e na força da profecia de uma mulher
o Evangelho das bem-aventuranças foi cantado, sinalizando uma Igreja Povo de
Deus, toda ministerial, profética e libertadora. Após um silêncio para acolher
a boa notícia nas nossas vidas, a palavra foi partilhada com os vários bispos, destacamos
aqui a fala do bispo Dom Sebastião: “Apenas
duas palavras.
A romaria nos confirma no ensinamento do Apóstolo Paulo aos
Romanos 12,1-2: `Ofereçam o corpo de vocês como sacrifício vivo, santo e
agradável a Deus, este é o sacrifício coerente da parte de vocês. E não se
deixem moldar pelas estruturas do sistema deste mundo, mas transformem-se pela
renovação profunda de sentimentos e pensamentos a fim de poder discernir qual é
a vontade de Deus, o que é bom, agradável e perfeito’. Nosso culto é a oferta
quotidiana de nossos corpos, isto é, de nossas relações e tarefas quotidianas.
A Romaria é expressão de nossas opções e ações em solidariedade
- Cultivar o cuidado e o respeito às diversidades
de gênero, crença e etnia;
- Respaldar particularmente os direitos dos povos
originários;
- Cuidar da Casa Comum, da “Ecologia integral”;
- Participar dos movimentos populares dando a
nossa contribuição específica;
- Acompanhar as vidas e as lutas das juventudes;
- Envolver-se na Campanha da Reforma política, acompanhar e fiscalizar a
vida política nos nossos municípios;
- Fazer das Romarias dos Mártires uma graça e uma
missão.
O povo Xavante com seus corpos enfeitados
para festa, num gesto de louvor, profecia e grito na defesa das suas terras
dançaram a dança da Esperança, a dança da resistência. E as juventudes de quase
todos os cantos do país com as bandeiras da paz, da utopia e profecia entram
dançando e cantando: É bonita de mais, É
bonita demais. A mão de quem conduz a bandeira da Paz!
Fomos
enviados para continuar a Romaria dos Mártires, no cotidiano de nossas vidas,
nos vários cantos do Brasil, nas lutas e na solidariedade. A imagem de Nossa
Senhora Aparecida, a mãe do mártir Jesus foi entregue para as Juventudes da
nossa Prelazia para seguir em missão: “Mãe
Aparecida, o profeta João, terra da esperança, povo em mutirão, Igreja dos
pobres em Libertação.
Mirim
e Tonny
Fotos: Creusa Salete
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