Galeria dos Mártires - Bispo Samuel Ruiz

Dom SAMUEL RUIZ,
Defensor dos índios, sucessor de Bartolomeu de Las Casas - CHIAPAS, MÉXICO *  24/01/2011

Tatik Samuel – que significa “Pai Amoroso”, assim era chamado nas comunidades indígenas.
Samuel Ruiz García Teodoro nasceu na cidade de Irapuato em 3 de novembro de 1924, e ali viveu sua infância, e aos 13 anos ingressou no Seminário Diocesano de León. Em 1947 foi enviado à Universidade Gregoriana, em Roma, para estudar teologia. Lá, foi ordenado sacerdote. Em 1954 regressou a León e, pouco depois, foi designado reitor do seminário.

Com apenas 35 anos de vida foi nomeado bispo de Chiapas pelo Papa João XXIII, em 14 de Novembro de 1959 e consagrado na Catedral de San Cristobal de Las Casas em 25 de janeiro de 1960, 25 sendo o Bispo desta diocese. E lá ele permaneceu 40 anos.

A diocese de San Cristobal é caracterizada pela extrema pobreza e com uma população majoritariamente indígena. Durante anos, o bispo Samuel Ruiz estabeleceu um o compromisso da diocese com a população indígena. Traduzido em idiomas indígenas a Constituição dos Estados Unidos Mexicanos e a Lei da Reforma Agrária. Instigando aos indígenas a reconhecerem seus direitos, e reivindicarem o pagamento justo pelos seus terrenos ou imóveis. Isso causou muitos conflitos com os exploradores, os ricos da cidade. Ele era um lutador incansável pelo o respeito dos direitos humanos, não só dos povos indígenas de seu país, mas também na América Latina. Pastoralmente falando, estabelecido pequenas comunidades ao longo da vasta diocese, as chamadas Comunidades de Base. Ao longo da década de 1960, ele treinou os agentes pastorais (sacerdotes, religiosos e religiosas, leigos professores de catecismo) para organizar cooperativas camponesas, ensinou que a cultura e as tradições indianas eram bonitos e deve ser preservado, e anunciou que o igualitarismo radical era a única solução para o pecado social que acossado Chiapas.
Foi participante e protagonista da Teologia da Libertação e da opção preferencial pelos pobres - tendência criticada por setores conservadores do Vaticano, da qual respondeu com a seguinte frase: “Não conheço nenhuma teologia que não seja da libertação”.

Inserido no contexto e nos debates teológicos e canônicos dos Concílios; Vaticano II, Medelin, Puebla e Santo Domingo, salientava constantemente sobre a opção preferencial pelos pobres que sua diocese assumia e vivenciava numa época dominada por golpes de Estado e por ditaduras militares na América Latina. Por seus compromissos com a libertação de seu povo da ganancia e exploração, certa vez o compararam com os bispos Helder Câmara, do Brasil, e Arnulfo Romero, de El Salvador, “arraigados na tradição e flexíveis na ação”, que reagiram “de maneira terna, porém firmes diante de situações complicadas”.

Diante da situação de algumas regiões de Chiapas que viviam como no período medial, sua alma ficou perturbada pelo tratamento dado aos índios escravos que eram comprados e vendidos como ovelhas. Samuel Ruiz vendo a completa ausência do Estado se converteu em defensor dos pobres e advogado dos índios, promoveu o respeito à mulher e às crianças, a tomada de consciência dos atores sociais e a “revolução das expectativas crescentes”. Em 1988, fundou o Centro de Direitos Humanos Frei Bartolomeu de Las Casas, um dos mais importantes e reconhecidos no México até hoje.

Se tornou uma figura central na Conferência Episcopal Latinoamericana e em Roma, ganhou fama mundial em 1991, durante o levante do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN). Sua intervenção impediu um massacre que poderia ter se tornado um genocídio, e ele se converteu em um ator fundamental nas negociações de paz entre o EZLN e o governo mexicano ao qual havia declarado guerra, ainda que Jean Meyer tenha documentado a condenação de Tatik Samuel à luta armada e seu distanciamento do mítico Subcomandante Marcos, que nunca tornou público. Apesar disso, em maio de 1998, o então presidente Ernesto Zedillo acusou o bispo de encabeçar a “pastoral da divisão” e a “teologia da violência”, devido à decisão de Tatik de dedicar sua vida a formar comunidades eclesiais de base em cada uma das comunidades indígenas de Chiapas.

O papel conciliador de Samuel Ruiz também fez com que participasse de uma comissão de negociação entre outra guerrilha mexicana, o Exército Popular Revolucionário (EPR) e o governo federal. Também participava dessa comissão o escritor Carlos Montemayor.

Como bispo da diocese de Chiapas, Samuel Ruiz desenvolveu uma intensa ação através do Comitê de Solidariedade com os Povos da América Latina, viajando a diversos países, com grupos, movimentos sociais cristãos e não cristãos. Uma de suas intervenções mais conhecidas foi em favor dos milhares de guatemaltecos que fugiram para o México no final dos anos 80 e início dos 90 para não serem massacrados pelo exército daquele país e seus esquadrões da morte, conhecidos como kaibiles.

Seu ativismo vinha de longe. Em agosto de 1976, apenas alguns dias após o assassinato do bispo de Rioja, monsenhor Enrique Angelelli, pela ditadura militar argentina, participa do Encontro de Bispos Latinoamericanos, realizado em Riobamba, Equador, e é preso pela ditadura militar desse país junto com outros 20 bispos, sacerdotes, teólogos e assessores, entre eles Adolfo Pérez Esquivel. Vinte e cinco anos depois desse episódio, o Nobel da Paz argentino apresentou a candidatura do bispo mexicano ao mesmo prêmio.

Em 16 de setembro de 2001, por ocasião de um aniversário da independência do México, Pérez Esquivel fez um discurso laudatório sobre Samuel Ruiz no Centro de Direitos Humanos de Nuremberg, que lhe outorgou naquele ano o Prêmio Internacional de Direitos Humanos, um dos tantos que o bispo emérito de Chiapas recebeu. Pérez Esquivel disse então que Samuel Ruiz era uma das “vozes proféticas que anunciam e denunciam a situação de violência e injustiças que vive a maioria dos povos latino-americanos. São as vozes dos despossuídos, dos sem voz que vão recuperando seu protagonismo histórico, o sentido da vida, da dignidade e esperança, na base do qual é possível construir um mundo mais justo e humano para todos”.

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