Galeria dos Mártires - Dom Juan Gerardi Conedera
Mártir da Memória Histórica
GUATEMALA * 26/04/1998
Memória dos 19 anos de seu martírio.
Bispo de La Verapaz, primeiro, depois designado auxiliar de El Quiché, e finalmente auxiliar da Arquidiocese de Guatemala, distinguiu-se sempre por sua proximidade ao povo e suas causas, pela defesa dos povos indígenas e por uma inteligente atenção à problemática cultural e social do país.
Sofreu atentados e exílio e, com todos os seus agentes de pastoral, saiu temporariamente da Diocese de El Quiché, numa atitude de denúncia e protesto pelos ataques e assassinatos coletivos que vinha sofrendo aquela Igreja.
Terminado o conflito bélico da Guatemala, que durou 36 anos, Dom Gerardi participou, em nome da Conferência Episcopal, na Comissão Nacional da Reconciliação. E sobretudo levou a termo a Oficina de Direitos Humanos do Arcebispado (ODHA), que vem se preocupando das vítimas da violência e de qualquer violação dos direitos humanos. Neste contexto criou o projeto REMHI (Recuperação da Memória Histórica).
O Informe REMHI, num trabalho exaustivo, que permitiu por primeira vez que falassem os familiares e os companheiros das vítimas de um interminável massacre, colheu 6.500 testemunhos acerca de 55.000 vítimas. Segundo este informe, o exército e grupos paramilitares são responsáveis por mais de 79% das vítimas.
Em 24 de abril de 1998, Monsenhor Juan Gerardi, apresentou o informe “Guatemala: Nunca Mais” na Catedral Metropolitana. Neste informe, responsabilizou o exército, as outras forças oficiais, as patrulhas de autodefesa civil e os Esquadrões da Morte por 90% das violações aos direitos humanos durante o conflito armado interno e atribuiu 10% aos rebeldes.
“Guatemala: Nunca Mais é o Informe do Projeto Interdiocesano “Recuperação da Memória Histórica” (REMHI), que analisa milhares de testemunhos sobre as violações aos direitos humanos ocorridas durante o conflito armado interno. Este trabalho está sustentado na convicção de que, além do seu impacto individual e coletivo, a violência retirou dos guatemaltecos o seu direito a palavra.
Cada história é um caminho de muito sofrimento, mas também de grandes desejos de viver. Muitas pessoas vieram contar o seu caso e dizer “acredite em mim”. Esta demanda implícita está ligada ao reconhecimento da injustiça dos fatos e a reivindicação das vítimas e seus familiares como indivíduos, cuja dignidade foi retirada. Esclarecer e explicar – dentro do possível – o ocorrido, sem localizar o dano nem estigmatizar as vítimas, constituem as bases para um processo de reconstrução social. Somente assim a memória cumpre o seu papel como instrumento para resgatar a identidade coletiva. - Guatemala, 24 de abril de 1998".
Monsenhor Juan Gerardi Conedera, levou adiante a criação do Escritório de Direitos Humanos do Arcebispado, que cuida até hoje das vítimas da violência de qualquer violação aos direitos humanos. Neste contexto, se iniciou o Projeto Interdiocesano REMHI, ao qual o Monsenhor Gerardi se dedicava quase por completo, com a esperança de conhecer a verdade por meio de testemunhos para que o passado não se repetisse mais, já que estava convencido de que a paz e a reconciliação se dariam somente conhecendo a verdade.
Dois dias depois de apresentar o informe de REMHI na catedral arquidiocesana, foi brutalmente assassinado, destruído o seu rosto, seus olhos, seus ouvidos, sua boca, seu cérebro, num intento de apagar a quem viu, ouviu e falou a memória histórica de todo um povo mártir. Por isso Dom Juan Gerardi é legitimamente reconhecido como mártir da paz com justiça, mártir da verdade, mártir da memória histórica.
Texto elaborado por Tonny, da Irmandade dos Mártires da Caminhada.
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