Galeria dos Mártires - Carlos Mariguella
O guerrilheiro que incendiou o mundo
SÃO PAULO * 04/11/1969
Carlos Marighella foi um militante brasileiro que
lutava contra os regimes autoritários do país.
Um sujeito que viveu a repressão dos regimes
autoritários. Essa poderia ser a primeira impressão constatada ao visualizarmos
a trajetória do baiano Carlos Marighella. Nascido em 1911, na cidade de
Salvador, esse famoso militante político teve a oportunidade de vivenciar o
autoritarismo do Estado Novo (1937-1945) e, décadas mais tarde, assistir ao
golpe que instalou a ditadura militar no Brasil no ano de 1964.
Sua trajetória política aconteceu nos primeiros
anos do governo provisório de Getúlio Vargas, quando participou de algumas
manifestações que exigiam a reorganização do cenário político nacional com a
elaboração de uma nova Carta Constituinte. Durante os protestos acabou sendo
preso pelas autoridades e, com isso, começou a enxergar com importância maior a
sua atuação política mediante os problemas sociais e econômicos vividos naquele
período.
No ano de 1936, decidiu abandonar seus estudos de
Engenharia Civil e se filiou ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), que na
época era dirigido por figuras históricas como Astrojildo Pereira e Luís Carlos
Prestes. Sua chegada ao partido se deu em uma época bastante complicada, pois,
um ano antes, os dirigentes comunistas haviam tentado derrubar Getúlio Vargas
com a deflagração da Intentona Comunista. Mais uma vez, Marighella fora alvo
das forças repressoras do Estado.
Já na primeira detenção conheceu os métodos escusos
com que as forças policiais da época agiam contra os inimigos do regime. Carlos
foi brutalmente espancado e sofreu várias torturas ao longo de um mês. Saindo
da cadeia um ano depois, prosseguiu em sua luta política buscando aumentar os
militantes do ideário comunista. Em 1939, foi mais uma vez preso e torturado,
sofreu novas sessões de tortura para que delatasse as atividades de seu
partido.
Somente com a queda do Estado Novo, em 1945, Carlos
Marighella saiu da prisão para viver uma nova fase de sua luta política.
Naquele ano, venceu as eleições como um dos mais bem votados deputados federais
da época. No entanto, seguindo instruções políticas do governo norte-americano,
o governo Dutra realizou a cassação de todos os políticos que estivessem
filiados a partidos de inspiração comunista.
Dessa forma, impedido de atuar pelos meios legais,
Marighella continuou a buscar apoio político entre trabalhadores e estudantes.
No ano de 1959, o triunfo da Revolução Cubana e a falta de uma ação
transformadora pelo PCB levaram o apaixonado idealista a questionar sobre a
possibilidade de uma revolução popular armada capaz de transformar o cenário
político nacional. Com o estouro da Ditadura Militar, foi mais uma vez
perseguido pelas forças policias.
Já no primeiro ano da ditadura, entrou em confronto
direto com o regime ao trocar tiros com a polícia e bradar a favor do
comunismo. Novamente encarcerado, aproveitou o tempo de reclusão para produzir
“Por que resisti à prisão”, obra onde explicava a necessidade de se organizar
um movimento armado em oposição aos sombrios tempos da repressão.
No ano de 1967, mais uma vez liberto, resolveu
romper com o marasmo dos comunistas para formar com outros companheiros
dissidentes a Ação Libertadora Nacional. Essa organização clandestina teria
como principal objetivo treinar grupos guerrilheiros com o objetivo de formar
um expressivo movimento armado urbano. Após treinar os guerrilheiros na zona
rural, o segundo objetivo era arrecadar meio milhão de dólares com a realização
de uma série de assaltos a banco na cidade de São Paulo.
Na primeira ação, conseguiu pilhar 10 mil dólares
de uma instituição bancária da época. Contudo, a penosa missão de manter esse
grupo sob a onipresente repressão militar foi se tornando cada vez mais
difícil, principalmente, pela falta de preparo de seus comandados. No ano de
1968, um militante capturado por policias confirmou Carlos Marighella com um
dos articuladores daquela onda de assaltos.
Logo de imediato, os meios de comunicação
subservientes aos interesses do regime militar distorceram toda a trajetória de
lutas de Marighella, descrevendo-o como um “líder terrorista”. No final de
1968, o cerco em torno de Carlos piorou com a publicação do AI-5. No ano
seguinte, o seqüestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick reforçou a
perseguição sobre todos aqueles que representassem uma ameaça à ordem imposta.
No dia 4 de novembro de 1969, em uma ação planejada
pela Delegacia de Ordem Política e Social, Carlos Marighella foi morto na
cidade de São Paulo, aos 57 anos de idade. Sua morte representou um dos mais
incisivos golpes contra os setores radicas da esquerda nacional e contribuiu
para que a Ditadura Militar alcançasse sua própria estabilidade. Somente com a
crise do regime, no final da década de 1970, a imagem desse ativista foi
redimida como um dos símbolos contra a repressão política no Brasil.
Por Rainer Sousa, Graduado em História
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