Galeria dos Mártires - Luis Espinal
Mártir das lutas do povo
BOLÍVIA * 22/03/1980
Luis Espinal, “Lucho”, sacerdote jesuíta e
jornalista, espanhol, missionário, 48 anos, mártir na luta do povo boliviano.
Nasceu em Manresa, Barselona, Espanha, no dia 4 de
fevereiro de 1932. Ordenou-se sacerdote em 1962. Em 68 foi para Bolívia, onde
trabalhou como professor na Universidade Maior de Santo André.
Fundou e dirigiu o semanário “AQUI”. Crítico de
cinema, jornalista e especialista em televisão, ganhou na Espanha o premio EUROVISÃO,
pela originalidade e qualidade de seus trabalhos.
Identificou-se com o povo boliviano, especialmente
com aqueles cujos direitos estavam sendo espezinhados. Presidiu a Comissão de
Direitos Humanos.
Assassinado depois de brutais torturas por um grupo
paramilitar que pretendia silenciar o testemunho de sua vida e de sua voz.
No dia 21 de março de 1980, foi visto, cerca das 20
horas, caminhando pelo centro da cidade. Ao voltar à sua residência o
sequestraram. Um jipe verde o esperava na porta de sua casa e vários homens o
empurraram violentamente para o interior do veículo, segundo pessoas que de
longe presenciaram a captura.
Seu cadáver, com numerosos impactos de bala e
claras monstras de haver sido torturado antes, foi encontrado abandonado na região
de Chacaltaya, no quilômetro 8. Estava amordaçado e com as mãos amarradas atrás
do corpo.
Segundo o informe dos médicos que fizeram a
autópsia, Pe. Luis faleceu cerca das 4 ou 5 da madrugada, por causa da perda de
sangue. Tinha fratura externa, hematomas em varias partes do corpo. Doze
orifícios de bala. Sabe-se que foi torturado em um matadouro velho e depois,
seu cadáver, deixado em outra parte da cidade.
Lucho deixou uma série de pensamentos e orações reunidos
por seus amigos em um livro, (Oraciones a
quemarropa – Asamblea Permanente de Derecho Humanos, Sucre, 1981).
Abaixo um destes textos escrito por Luis Espinal.
Cristo Total
Existem cristãos mudos, que enquanto não se mexe
com eles, ficam tranquilos, por mais que o mundo se arrebente.
Não protestam contra as injustiças, porque estão
escravizados ao Estado pela perseguição ou pelo compromisso, comprados pelo
medo ou pelo oportunismo.
Outros, talvez, porque nada têm como contribuição.
Para eles a fé é uma coisa etérea, que nada tem a ver com a vida; vale só das
nuvens para cima...
Nós te pedimos Senhor, pelos cristãos do silêncio;
que tua Palavra lhes queime as entranhas e os faça superar a coerção. Que não
se calem como se nada tivessem a dizer.
Sabes o que convém à tua Igreja, se um fervor de
catacumbas ou a rotina de uma “proteção” oficial. Dá-lhes o que seja melhor,
ainda que seja a cadeia ou a pobreza.
Livra-nos do silencio daquele que se enfastiou
diante da injustiça social; livra-nos do silencio “prudente” para não nos
comprometer.
Receamos ter limitado teu Evangelho; agora já não
tem arestas, nem espanta a ninguém; temos pretendido convencer-nos de que é
possível servir a ti e ao dinheiro.
Senhor livra a tua Igreja de todo ranço do mundo;
que não pareça uma sociedade a mais, com seus caciques, acionistas,
privilégios, funcionários e burocracia.
Que tua Igreja nunca seja Igreja do silêncio, uma
vez que é a depositária de tua Palavra; que apregoa livremente, sem reticencias
nem covardias. Que jamais se cale, nem diante dos que usam de brandura, nem
diante dos que tomam em armas.
Texto organizado por Tonny, da Irmandade
dos Mártires da Caminhada, a partir de leitura dos Livros:
Martírio, Memória perigosa na América
Latina hoje, e Salmos Latino-Americanos, Edições Paulinas.
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