Galeria dos Mártires - Gerardo Valencia Cano

GERARDO VALENCIA CANO
Profeta e mártir da libertação dos pobres.
COLOMBIA * 21/01/1972

"Irmãos, aqui vos fala um irmão, um irmão latino-americano nascido nas montanhas da Cordilheira dos Andes, queimado de sol de nossos vales, ferido nos espinhos da selva, que conhece a Amazônia e Plata. Eu falo a partir da minha experiência da terra, da angústia, da liberdade, da sede insuportável para que todos nós tenhamos uma só Pátria".

Bispo Gerardo Valencia Cano nasceu em Santo Domingo - Antioquia, em agosto de 1917, em uma família humilde e profundamente religiosa, onde ele herdou seu grande senso de sacrifício e de serviço para o bem-estar das pessoas vulneráveis ​​e desprezados. Ele assumiu desde o início o serviço diaconal de evangelização dos pobres, não evangelização ligada a grandes estandes de igreja conservador colombiano, mas a favor dos despossuídos, dos explorados, uma evangelização que também é denúncia das injustiças e atrocidades pelas quais o país enfrentava, e que são ainda motivo de grande lutas e resistências.

Homens como Bispo marcou a vida de muitas comunidades em tempos muito difíceis, então nós temos que levantar as bandeiras e gritando, porque o pensamento de "Moncho" ainda é vivo e atual. Mesmo porque, ainda hoje, após sua trágica morte em um avião que caiu nas montanhas vizinhas de Antioquia e Chocó, ainda restam dúvidas sobre as causas do "acidente" em 21 de Janeiro de 1972. A versão oficial é que foi apenas um acidente de avião, mas um padre e um grupo de agricultores que contestaram a versão oficial e subiram a pé até a montanha para resgatar o corpo do bispo, forçando o governo a socorrer os outros corpos. Não foi um acidente, como tudo parece indicar, mas, o resultado de um "ataque", como assegura Padre Javier Giraldo: "Essas mortes fazem resplandecer a vida", diz. Em todo o caso, as causas reais de morte nunca poderemos saber, porque o governo, em seguida, fez de tudo para apagar as provas, mas as causas de sua vida ainda estão vivas em nossas lutas.

Dizia o bispo Gerardo aos padres: "O sacerdote deve ser por vocação o fermento para a mudança que esperamos, sua palavra e ação corajosamente evangélica tem que ser luz para os marginalizados e grito de esperança para os seus líderes".

Como era conhecido, tornou-se eficaz em promover o amor ao próximo, organizando as comunidades em torno da construção do Reino de Deus na terra. Como qualquer bom companheiro da Teologia da Libertação, seguiu denunciado e muitas vezes enfrentou o Estado e os militares, que subjugou o que é chamado de comunidades de base. Junto com essas comunidades executou protestos contra os despejos, assassinatos, desaparecimentos e outras injustiças cometidas contra as comunidades. Foi nessas ações onde sua qualidade de Revolucionário se fez eficaz, considerando ainda a revolução como uma necessidade, como nos tempos antigos, quando Jesus também tivera a coragem de se tornar uma revolucionária para o bem-estar de seu povo.

Monsenhor Valencia não só criou as paróquias dos pobres, foi um dos principais impulsionadores da educação, que ele entendeu como um pilar fundamental no processo de resistência pacífica e como uma ferramenta para um grande trabalho social tão necessária para as comunidades. Inclusive reivindicou a partir de uma visão de um socialismo latino-americano, “que se juntar o negro, o índio, o branco, que são uma só raça de cor Latinoamericana, compreenderá que os nossos rios e montanhas não são linhas de separação, mas os laços estreitos de ligação".

Até então Buenaventura estava emergindo como o principal porto do país, mobilizando um grande número de mercadorias que entravam no território, os quais, como hoje, não se traduziram em progresso para a cidade, mas para o de lucro de poucos. O resultado foi uma expansão desigual da cidade que, apesar de toda a riqueza que recebia, ainda carecia de serviços públicos. Esta situação de exploração estava muito clara para Bispo, que com sua convicção ajudou a semear as sementes da liberdade ao redor do porto; e por esta razão veio a ser chamado pelas elites de "bispo vermelho""padre rebelde" e outros adjetivos relacionados, pelo simples fato de ter escolhido uma vida ao lado dos pobres, e ainda reconhecido que os pensadores/as como: Martí, Marx, Zalamea, Bolívar, Policarpa, entre outros/as, não estavam errados quando eles convidaram os proletários, pobre, esfarrapado a libertar-se da opressão.

As graves condições desumanas e indignas conhecidas por Monsenhor Gerardo em todo o seu ministério apostólico fez de sua convicção se transformar na principal fonte de motivação para a mudança nas comunidades pobres, suas missas e reuniões com as comunidades eram ligadas por uma vida de serviço e dedicação outros, como orgulhosamente inscrito em seu brasão: "embaixo de nossos trapos, de nossas fragilidades, há um poder libertador invencível que vai derrubar por terra os sonhos dos gananciosos".

Com uma visão teológica do ideal de libertação, Monsenhor dedicou sua vida aos necessitados, especialmente a comunidade afro-colombiana de Buenaventura, e como todo bom profeta, sua vida e suas mensagens tornaram-se desconfortável para toda a oligarquia colombiana. Como um dos principais defensores dos signatários do documento de Golconda, (documento construído e assinado em 1968 que recolheu o sentimento e compromisso de 50 sacerdotes de todo o país sobre os problemas sociais e do papel da ação pastoral) foi muitas vezes perseguido pelas comunidades eclesiásticas e militares, que, como cães de caça, perseguindo e aprisionando os padres e missionários/as simpáticos a um movimento diferente, um movimento que não dependem das instituições da Igreja conservadora, mas que é infundido diretamente nas comunidades de base, na vida do povo. Estes religiosos colombianos, identificados ideologicamente com um movimento similar na América Latina, que enfatizou a necessidade de uma "igreja dos pobres" e um mundo mais justo para todos/as, livre da miséria e opressão. Este é o movimento chamado Teologia da Libertação.

Señor, yo no quiero creer
Como creyeron mis abuelos
Mezcla de temor,
De superstición,
De desconfianza.
Yo creo que soy tu imagen,
Y creo que Jesucristo
Fue un hombre como yo
-sin pecado-
Yo creo que tú me diste
Luz para conocerte,
Amor para amarte,
Valor para seguirte
E imitarte.
Yo no creo en la suerte
De los pobres
Ni en el destino de los desheredados.
Yo no creo que unos hombres
Nacieron para grandes
Y otros para enanos.
Yo creo que hay injusticias
Para reparar,
Vicios para corregir,
Virtudes para cultivar
Y que todo hombre y toda mujer
Estamos llamados a ser
Más perfectos cada día.
Yo creo que si Cristo murió joven
Y tan mal
No fue solamente por culpa de los
Fariseos
Sino por algo más…por mucho
Más.
Por un mundo que había que restaurar.
+Gerardo Valencia Cano

Vicario Apostólico de Buenaventura

Texto elaborado por Tonny, da Irmandade dos Mártires da Caminhada.

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