Galeria dos Mártires - Vicente Cañas, missionário jesuíta
08/05/1987 – Vicente Cañas, missionário jesuíta, assassinado
pelos que cobiçavam as terras dos índios que ele acompanhava, mártir em Mato
Grosso, Brasil.
Vicente Cañas Costa (Albacete, 22 de outubro de 1939 - Mato
Grosso, 6 de abril de 1987), também conhecido como Kiwxi, foi um missionário
jesuíta espanhol naturalizado brasileiro, que, em 1974, estabeleceu os
primeiros contatos com os indígenas Enawenê-nawê, no estado de Mato Grosso, e
passou a residir entre eles em 1977, trabalhando pela preservação de seu
território, com demarcação da Terra Indígena Enawenê-Nawê e por ações de saúde.
Foi assassinado dez anos depois, a mando de fazendeiros da região.
O corpo do Ir Vicente Cañas foi encontrado cerca de quarenta
dias depois da morte, por dois missionários do Cimi, com o abdômen perfurado.
Seu barraco, em desordem, apresentava sinais de luta; seus óculos foram
quebrados por uma porretada em seu rosto. Seus instrumentos de trabalho, como o
cesto onde levava medicamentos, além de lanterna, espingarda e facão, já
estavam na voadeira (barco) com a qual iria até as aldeias, como havia avisado
por rádio dias antes do assassinato.
O inquérito policial tramitou durante seis
anos. Apesar de ser voz corrente na região sobre o envolvimento dos acusados no
crime, a população de Juína e das aldeias indígenas conviveram e ainda convivem
com medo de represálias e se calam em relação aos mandantes e executores deste
crime. A revelação do envolvimento dos acusados só se deu por testemunhos de
indígenas da etnia Rikbaktsa (canoeiros), habitantes das terras vizinhas à dos
Enawenê-Nawê. 19 anos depois do crime foram julgados pelo Tribunal do Júri,
pelos crimes de homicídio duplamente qualificado, mediante pagamento e em
emboscada, Ronaldo Antônio Osmar, ex-delegado de polícia de Juína, município
onde se deu o assassinato, José Vicente da Silva e Martinez Abadio da Silva, um
conhecido pistoleiro da região. Ninguém
foi condenado.
O advogado do Cimi, Paulo Machado Guimarães, admitiu que
faltaram provas. Ele acusou o ex-delegado Osmar de intermediar a negociação
entre José Vicente e os supostos mandantes do crime, Pedro Chiquetti e Camilo
Óbice, que eram fazendeiros na área. Chiquetti possuía terras no limite norte
da comunidade indígena e tinha interesse em expandi-las. Já Óbice era um
grileiro na região, também interessado nas terras dos Enawene-Nawê. Os dois
faleceram durante o longo processo judicial. O outro suposto mandante, o
latifundiário Antonio Mascarenhas Junqueira, não pôde ser julgado em razão da
idade avançada. Segundo Guimarães "a Funai tem o registro das disputas
entre fazendeiros e os indígenas desde antes de 1988" e, aparentemente, a
morte do padre Vicente deveria facilitaria a tomada das terras indígenas.
tanta coisa que a gente desconhece, tanta luta, tantos mártires, as comunidades massacradas pela impunidade e injustiça dos cobiçosos de poder e riquezas.
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