Fala do Bispo Pedro Casaldáliga na manhã de domingo 17 de julho,
celebração da Ceia, Romaria dos Mártires da Caminhada 2011.
“Possivelmente essa
seja, para mim a última romaria pé no chão, a outra já seria contando estrelas
no seio do Pai”. De todo modo, seja a última, seja a penúltima, eu quero dar
uns conselhos. Velho, caduco tem direito de dar conselhos... E a memória dos
mártires, o sangue dos mártires, mais do que um conselho, compromisso que
conjuntamente assumimos, ou reassumimos.
São Paulo, depois de
tantos dogmas que anuncia tantas brigas teológicas, tantas intrigas por
cultura, dá um conselho único: ‘o que eu peço de vocês que não esqueçam dos
pobres; o que eu peço de vocês que não esqueçam a opção pelos pobres, essencial
ao Evangelho, à Igreja de Jesus. A opção pelos pobres’.
E esses pobres se
concretizam nos povos indígenas, no povo negro, na mulher marginalizada, nos
sem-terra, nos prisioneiros..., nos muitos filhos e filhas de Deus proibidos de
viver com dignidade e com liberdade.
Eu peço também para
vocês que não esqueçam do sangue dos mártires. Tem gente na própria Igreja que
acha que chega de falar de mártires. O dia que chegar-se de falar de mártires
deveríamos apagar o Novo Testamento, fechar o rosto de Jesus.
Assumam a Romaria
dos Mártires, multipliquem a Romaria dos Mártires, sempre, recordemos bem,
assumindo as causas dos mártires. Pelas causas pelas quais morreram, nós vamos
dedicar, vamos doar, e se for preciso, morrer, a nossa própria vida também... E
ainda uma palavra: há muita amargura, há muita decepção, há muito cansaço, há
muita claudicação...
Isso é heresia! Isso é pecado!
Nós somos o povo da esperança, o povo da
Páscoa. O outro mundo possível somos nós! A outra Igreja possível somos nós!
Devemos fazer
questão de vivermos todos cutucando, agitando, comprometendo. Como se cada um
de nós fosse uma célula-mãe espalhando vida, provocando vida.
A Igreja da
libertação está viva, ressuscitada, porque é a Igreja de Jesus. A teologia da
libertação, a espiritualidade da libertação, a liturgia da libertação, a vida
eclesial da libertação não é nada de fora, é algo mui de dentro, do próprio
mistério pascal, que é o mistério da vida de Jesus, que é o mistério das nossas
vidas.
Para todos vocês,
todas vocês, um abraço imenso, de muito carinho, de muita ternura, de um grito
de esperança, esse cantar viva a esperança que seja uma razão...
Podem nos tirar
tudo, menos à via da esperança. Vamos repetir: ‘Podem nos tirar tudo, menos à
via da esperança!’. Um grande abraço para vocês, para as suas comunidades, e a
caminhada continua! Amém, Axé, Awiri, Sauidi, Aleluia!”
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